terça-feira, 8 de julho de 2008

Poema da semana...

Ioseph
Et quid nunc, Ioseph?
Festum est finitum,
lumen est exstinctum,
cuncta evanuit turba,
nox est frigefacta,
et quid nunc, Ioseph?
et quid nunc, et tu?
Qui nomen non habes,
qui alios derides,
qui versus componis,
qui amas, reclamas?
et quid nunc, Ioseph?
Femina non tibi
verbum neque tibi
nec blanditiae tibi,
bibere non vales,
fumum nec spirare,
nec sputare quidem,
nox est frigefacta,
dies tuus non venit,
currus tuus non venit,
risus tuus non venit,
utopia non venit,
omnia et sunt finita,
omnia et vanuere
omnia et mucuere,
et quid nunc, Ioseph?
Et quid nunc, Ioseph?
tuus sermo dulcis,
tuae febris hora,
tua gula et ieiunium,
tua bibliotheca,
tua auri fodina,
tua vestis vitrea,
tua contradictio,
tuum odium — et quid nunc?
Clavi manu arrepta,
vis ut pateat ianua,
non est tamen ianua;
vis in mari mori
mare est tamen siccum;
vis in Minas ire,
Minas non est amplius.
Ioseph, et quid nunc?
Tu si vocitares,
tu si gemeres,
tu si personares
Vindobonae melos,
tu si obdormires,
tu si fessus fieres,
tu si mortem obires...
Sed non moreris,
tu es durus, Ioseph!
Solus in caligine
velut bellua in silva,
sine theogonia,
nudo sine muro
tete cui fulcires,
sine equo nigro
qui quam citior fugiat,
tu incedis, Ioseph!
Ioseph, quonam gentium?
Carlos Drummond de Andrade
Obs: Como tem gente por aqui que gosta e só entende as coisas em latim o poema teve de ser publicado assim.Para nós(simples mortais) deixo nos comentários a tradução deste belo poema(adoro Drummond!!!)

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Ruy Mascarenhas disse...

José




E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, Você?

Você que é sem nome,

que zomba dos outros,

Você que faz versos,

que ama, proptesta?

e agora, José?



Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?



E agora, José?

sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio, - e agora?



Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?



Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse,

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você consasse,

se você morresse....

Mas você não morre,

você é duro, José!



Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja do galope,

você marcha, José!

José, para onde?